Regina Casé esquentou geral

Criado para ser uma atração restrita ao verão, “Esquenta” sairá do ar deixando a sensação de ter durado menos do que deveria. Nas últimas décadas todo mundo viu Regina Casé, atriz vinda do teatro experimental, experimentar muito na televisão. Ela descobriu o Brasil (“Brasil legal”), entrevistou personalidades (“Muvuca”), explorou universos que estavam invisíveis para o grande público (“Central da periferia”) e visitou a natureza (“Um pé de quê?”). Além disso, atuou em novelas.

Cada um desses trabalhos refletia sempre um foco de interesse dela. “Esquenta” — que congrega em seu palco figuras de diversas linhas musicais e políticas, crenças variadas e classes sociais idem — mostra agora uma Regina madura, comunicadora de voz potente, capaz de falar com propriedade para muitos interlocutores e abraçando inúmeros temas. O palco é confuso? É, mas uma confusão orgânica, em que plateia e convidados se fundem propositadamente. Esta integração/apropriação é um ganho para o “Esquenta”, uma garantia de que está todo mundo em casa.

O programa — com direção de núcleo de Guel Arraes e direção de Estevão Ciavatta, Leonardo Netto, Mônica Almeida e Mário Meirelles, e roteiro de Alberto Renault e Hermano Vianna — não nega algumas inspirações. “Almoço com as estrelas” é uma. Há outras menos explícitas, como a maneira com que os convidados vão sendo apresentados ao chegarem ao palco. Algo meio “é coisa nossa”, inesquecível saudação do programa de Silvio Santos.

“Esquenta” foi um achado do verão. Merecia agora o horário noturno.