"Muita gente faz jornalismo confundindo a profissão com a de artista" diz Marcelo Fontenele em entrevista ao P8
Hoje, aos 33 anos e formado em jornalismo pela Faculdade Santo Agostinho há pelo menos 10, Marcelo Fontenele começou bem antes na área. Aos 15 anos, criou um jornal impresso na sua terra natal, o município de Altos, intitulado "Mensageiro Altoense". Foi para o rádio por intermédio de Elvira Raulino, detentora de meios de comunicação na cidade, posteriormente vindo para Teresina aonde começou trabalhando em portais e jornais.
No meio jornalístico há 18 anos, Fontenele iniciou sua carreira como repórter na TV Clube, indo depois para uma temporada na TV Mirantede Timon-MA (cobrir férias de um repórter por 2 meses) . Ele conta que ainda recebeu convite para trabalhar em Caxias pela mesma emissora, mas pela distância acabou declinando do convite. Em 2013, voltou a atuar em emissoras locais em Teresina pelas lentes da TV Cidade Verde aonde está até hoje.
Marcelo Fontenele também já encabeçou novas ideias na comunicação do Estado criando revistas, como foi o caso da Revista Ideia. Passou pela reformulação do Portal 45 graus e ainda hoje continua ligado ao jornalismo online através das colunas que mantém no portal de notícias da emissora em que trabalha.
"Você perguntou o que me fez deixar a emissora. Na verdade eu não deixei. Eu fui demitido." (sobre TV Clube)
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Desde criança a televisão sempre me fascinou. Gostava de assistir de tudo um pouco, até mesmo os telejornais. Aos 12 anos a mamãe me deu de aniversário um gravador portátil, que era do tempo das mini-fitas. Nele eu brincava de radialista. Falava como se fosse um apresentador e colocava as músicas em sequência. Aos 15 anos, eu lancei um jornal impresso de 8 páginas, em Altos, que se chamava “Mensageiro Altoense”. Eu era fã incondicional da jornalista Elvira Raulino por ela ser de Altos e de ver o tamanho sucesso que ela tinha Piauí afora. Ela é minha madrinha de Crisma e me deu muita força numa época em que poucas pessoas acreditavam no meu sonho de ser um grande jornalista. Assumi o programa musical “Eu, Você e o Sucesso” na rádio São José dos Altos, que no tempo tinha 10 quilos de potência e o alcance do sinal abrangia todo o Piauí e parte do Maranhão e do Ceará. Pouco tempo depois, Elvira Raulino me colocou para ser o editor de jornalismo do jornal da emissora. Simultaneamente a isso, eu continuava com o jornal Mensageiro Altoense que repercutia muito na cidade. Fui convidado para ser membro da Ordem DeMolay (grupo de jovens da maçonaria), onde assumi o Comitê de Comunicação e lancei o jornal “A Voz do Arauto”, de circulação nacional, entre os grupos espalhados no país. Ainda antes de iniciar o curso de jornalismo, aos 18 anos, recebi duas honrarias importantes: A Comenda Benedito Pastana, pelo centenário da imprensa altoense e o mais alto grau da Ordem DeMolay, o Chevalier, numa cerimônia que teve a presença do Grão Mestre da Ordem no Brasil, Alberto Mansur. Desde então, resolvi focar mesmo nessa área e estou nela há 18 anos. Depois dessas experiências na minha cidade, fui correspondente de Altos no jornal O Dia, onde também assinei coluna. Foi quando comecei a trabalhar em outros segmentos ampliando minhas habilidades, como assessoria de imprensa, portais e televisão.
Se tivesse que atuar em outra profissão, qual seria?
Fisioterapeuta! (Risos) Inclusive concluo a graduação em fisioterapia em novembro desse ano. Sempre quis ter um segundo curso superior. Antes pensei no Direito, mas como fui Escrevente Judiciário no Juizado Especial, não curtia muito a ideia de usar leis para defender gente errada. Seria uma Injustiça. Aí me veio a ideia de procurar algo na área da saúde. Comecei a pesquisar e de cara descartei a medicina. Não é um curso para quem quer, é para quem nasce com o dom. Entre outros cursos, me interessei muito pela fisioterapia. Depois de muita leitura sobre a área, conversei com profissionais, visitei clínicas e vi que poderia dar certo. Resultado: Estou apaixonado pela profissão, assim como pelo jornalismo. Mesmo com tantos afazeres, nunca deixei nenhuma disciplina em dependência e, recentemente, tirei nota 9,5 no projeto do Trabalho de Conclusão de Curso, que já iniciei. Outro feito marcante durante o curso, é que nunca havia apresentado trabalho em congressos e sentia a necessidade disso. Então eu e minhas amigas Luciana Cardoso e Walniza Lima fizemos um trabalho de campo com um tema inovador “Fisioterapia no Tratamento de Dependentes Químicos”. Apresentamos os resultados no Congresso Internacional de Fisioterapia, que reúne profissionais de vários lugares do mundo, e conseguimos tirar a nota 9,2. Estou muito realizado também na fisioterapia e minha meta é me profissionalizar cada vez na área.
Todo mundo tem uma inspiração, qual a sua nesta área tão importante?
Muita gente se espelha no William Bonner ou no Evaristo Costa e até tenta imitar os trejeitos deles o que acaba sendo claro para o telespectador e passa uma imagem artificial. Eu procuro ser eu mesmo. Não acredito em concorrência entre os colegas, não creio que exista um jornalista melhor que o outro, mas acredito sim em diferencial, em marca própria. E tenho recebido essa reciprocidade nas ruas e na rede social, inclusive sendo citado em votações como um dos jornalistas de maior influência na internet. A minha inspiração sempre foi, é e será a jornalista Cláudia Brandão. Uma das melhores entrevistadoras que conheço, tem credibilidade ilibada, postura como pessoa e como profissional, sensata, direta, objetiva... Enfim. Passaria muito tempo aqui descrevendo como a vejo. Outra jornalista que admiro muito em todos os sentidos é a Nadja Rodrigues. Cativa muito pela leveza mesclada com segurança e credibilidade. Ela é muito completa, tem uma dicção perfeita, desenrolada, muito natural e elegante. Dizem que todo louco tem suas manias, não é? Pois a minha é estar em casa e ver o Notícia da Manhã iniciar com o "toc toc" do sapato dela. (Risos). Nadja é show, tanto como profissional como ser humano.
Quem foi o seu incentivador? Ou não teve para atuar no jornalismo?
Não poderia ser outra pessoa a não ser a mamãe. Muita gente foi contra eu estudar jornalismo. Disseram que pobre tinha que estudar para ser médico ou advogado. Eu engoli tudo calado e enfrentei muitas dificuldades para conseguir realizar esse sonho. Inclusive quando iniciei a faculdade de jornalismo, minha família passava por uma crise financeira muito pesada. Não tive nem condições de comprar livros. Só consegui concluir o curso porque entrei no FIES, financiamento estudantil oferecido pelo governo federal. Todo dia eu pegava o ônibus de Altos para Teresina. Depois entrava numa van lotada da linha Nova Teresina e ia para a faculdade. Na volta, era o mesmo esforço e chegava em casa às 23h30minh. Reconheço que fui audacioso ao enfrentar uma área que possui poucas oportunidades no Piauí. Ainda mais vindo do interior e sem nenhuma influência política ou social. Mas se você não mete a cara e faz, nunca vai saber se poderá dar certo ou não. Hoje posso dizer que tenho orgulho da minha luta, de ter vencido por esforço próprio.
Na sua atuação como repórter, como é encarar o dia-a dia?
Pois é... Boa pergunta! Muita gente faz jornalismo confundindo a profissão com a de artista, glamour, fama e dinheiro. E não é por aí. Jornalista de verdade rala e muito. A gente pega sol, chuva, chá de cadeira, chegamos a ser ameaçados por bandidos em pontos de vendas de drogas, além da agilidade que devemos ter para fazer o texto e chegar a tempo do material ser editado e entrar no jornal. Conseguir confirmar informações para não divulgar nada errado é outro desafio.
O que mais te toca emocionalmente na profissão exercida?
Ver a destruição da sociedade por causa do tráfico de drogas e não existir nenhuma política pública realmente eficiente para combater esse mal. Eu fico sem chão quando vou cobrir um homicídio e vejo o desespero da mãe da vítima chegando ao local do crime.
A Revista Piauí Agro Business é outra área que você atua. Qual o valor significante que ela traz a você?
A revista Piauí Agrobusiness foi outro grande desafio para mim. Ela é a primeira e única revista de agronegócio que circula no Estado e já estamos a 3 anos no mercado sem interrupção de periodicidade trimestral. Recebi o convite do proprietário, o publicitário João Marcelo, e aceitei. No início foi complicado porque essa é uma área muito técnica. E os leitores fazem parte de um público altamente capacitado e atualizado sobre tudo do agronegócio. Os produtores de grãos no Piauí possuem curso superior, especialidades, mestrados, fazem cursos específicos sobre alguma tecnologia. Então, entender e acompanhar esse ritmo foi um processo lento de adaptação. Acabei me interessando e gostando muito do setor. O que me deixa muito orgulhoso porque hoje empresas de outros Estados nos procuram para serem parceiras. A penúltima capa foi a Celeiro Sementes, que é a maior indústria de sementes do Brasil e tem sede em Brasília. E a última capa foi a TMF Fertilizantes, que é de Minas Gerais. Conseguimos conquistar e temos o respeito de fazendeiros, pesquisadores, estudantes e empreendedores do setor que mais cresce no Piauí.
Quais as estratégias usadas para conciliar TV e Revista?
Na verdade, além da televisão e da revista Piauí Agrobusiness, sou assessor de imprensa do Sindicato dos Trabalhadores da UFPI, responsável pela editoria “Viver Bem” no portal Cidade Verde, assino o blog “Vida” no mesmo portal, faço a faculdade de fisioterapia, tenho estágio duas vezes por semana no NASF de Demerval Lobão e ainda dou assistência de mídia nas lojas de variedades e estamparia que temos em Altos e trabalho pesado no balneário Paraíso, que abre aos domingos. Abrimos o empreendimento há 3 meses. Fico no bar recebendo as fichas e entregando as bebidas. Meu irmão Marcílio ajuda minha mãe na cozinha. E meu outro irmão, que é vereador no município, trabalha como garçom, pois não conseguimos fechar a equipe de profissionais. E o papai é quem fica na churrasqueira, pois também temos dificuldades de encontrar quem queira ganhar renda extra aos domingos. Meu tempo é muito apertado, não tenho agenda. Mas consigo fazer tudo como hábito. Quando paro um dia, sinto falta da correria.
Toda profissão tem suas dificuldades, qual a maior dificuldade que você já teve ou que vivencia em sua carreira profissional?
Eu, particularmente, não gosto de cobrir solenidades demoradas. Cansam e estressam a equipe. Também fico sem ação ao cobrir velórios. Acho algo muito íntimo e um momento em que a família precisa de paz. Mas tem casos que não podemos ignorar devido à relevância do fato.
Como foi sua passagem pela TV Clube, e o que o fez você deixar a emissora?
Minha passagem por lá foi ótima. Trabalhei na emissora durante 6 anos e 6 meses. Ainda como estagiário, produzia séries de reportagens especiais. Foi uma escola para mim, pois hoje o que sei de TV aprendi lá. Em seguida recebi o convite para ser Editor-Chefe do principal telejornal da casa, o Piauí TV 2ª edição. Fui treinado pelo próprio diretor da época, o Amorim Neto. Depois ele perguntou se eu tinha vontade de ser repórter. E acumulei as duas funções. Terminava o jornal e eu saía para fazer reportagens à noite, até ficar oficialmente somente como repórter. Sem nenhuma experiência, consegui fazer reportagens para séries da Globo Nordeste e várias para os telejornais da Globo News e Brasil TV, exibido para todo o Brasil para quem usa parabólica, no horário do Piauí TV 2ª edição. Você perguntou o que me fez deixar a emissora. Na verdade eu não deixei. Eu fui demitido. Acho que sou um dos raros jornalistas que é demitido e diz que realmente foi demitido. A maioria prefere dizer que pediu pra sair ou que recebeu proposta de outro lugar. O outro diretor mineiro que assumiu a direção da emissora estava acostumado a abusar do cargo para tentar fazer os profissionais duvidarem da própria capacidade ao emitir opiniões e cobranças sem sentido e de forma grosseira. Numa avaliação de reportagem minha, sobre o mercado de academias, ele disse que minha passagem foi desnecessária, que fiz propaganda e que coloquei dois “viadinhos” para falar no final. E perguntou a mim o que eu achava da avaliação dele. Eu respondi que achava a avaliação dele equivocada, pois minha passagem mostrava e trazia um dado curioso, não mostrei nem falei a marca de nenhuma empresa e que os dois “viadinhos” os quais ele se referia eram sócios: Um casado e outro noivo. Sem acreditar que alguém tinha respondido ele com bons argumentos, um mês depois ele me chamou na sala e disse que eu não fazia parte do perfil da empresa. Lá deixei alguns amigos que tenho convívio até hoje, como a Denise Freitas, Neyara Pinheiro e a Marcênia Izabel. Os donos da emissora foram contra a minha demissão, mas o jornalismo é gerenciado pela Globo. Todos eles quando me veem me tratam com muita alegria e respeito. Não sabia o então diretor que ele tinha acabado de me fazer um grande favor para a minha vida, pois foi quando iniciei o curso de fisioterapia e passei a trabalhar na melhor emissora de televisão do Piauí: A TV Cidade Verde.
Durante todo esse tempo atuando em TV, qual foi o momento mais marcante pra você?
Eu e minha equipe de externa fomos os primeiros a fazer uma reportagem sobre o caso da violência brutal em Castelo do Piauí contra as quatro adolescentes. Ficamos no HUT até as 2h da madrugada esperando as ambulâncias que traziam as vítimas e exibimos o material no telejornal Notícia da Manhã, cedinho. Cada informação que chegava eu ficava pasmo, tentando assimilar tanta crueldade. E ver o sofrimento dos familiares das meninas foi de partir o coração. Já cobri de tudo, mas isso me marcou muito e lembro todo dia. Logo depois, todas as emissoras estavam em Castelo do Piauí iniciando a cobertura, que até então só estavam nos portais.
Atualmente atua na TV Cidade Verde, pra você qual o grau de satisfação em estar contribuindo com esta emissora?
Satisfação ilimitada! Foi a emissora que me abraçou quando fiquei desempregado. A TV Cidade Verde é minha segunda família, não somente porque estou lá todos os dias. Mas é porque o clima de trabalho é tranquilo, os profissionais trabalham em conjunto para a uma melhor qualidade final do produto, as pessoas possuem hábitos que cativam. Quem assume cargos de chefia dá exemplo e causa admiração pelo respeito, equilíbrio e participação ativa dentro da TV. Quando você é reclamado, você nem sente que está sendo reclamado. É alto nível! Não é à toa que recebemos um carinho imenso da população nos locais que vamos. Trabalhar num local que te dá condições de logística e tecnologia é muito gratificante. Ser o primeiro ao informar determinado assunto relevante e depois ver a repercussão na mídia é impagável. Estou na emissora há 2 anos e meio e já posso dizer que tenho o que contar. Assim que entrei, produzi e gravei a série “Vidas Roubadas”, onde tratamos sobre o tráfico de drogas num ponto de vista nunca mostrado antes. Estivemos em locais muito perigosos e conseguimos entrevistas exclusivas que emocionaram. Também já tive a felicidade de emplacar reportagens nos telejornais nacionais como o SBT Brasil, Jornal do SBT e o SBT Manhã. Satisfação nota mil.
Um bom jornalista pra você, deve ser...
Disciplinado com horários, curioso 24h, atento, ver além do que os olhos conseguem ver, bem informado, paciente, responsável no que escreve ou fala e respeitoso com as diferenças (sejam religiosas, raça, nível social, orientação sexual, idade, etc).
O Marcelo Fontenele de hoje é...
Um autocrítico. Sei onde erro. Reconheço os erros e procuro sempre acertar. Afinal, somos falhos. Estamos em constante evolução. Quem vê o jornalismo como trabalho e não como glamour, acaba desenvolvendo essa habilidade. O glamour cega as pessoas. Creio que o excesso de autoestima não faz bem.
Por Wilson Júnior
"Muita gente faz jornalismo confundindo a profissão com a de artista" diz Marcelo Fontenele em entrevista ao P8
Reviewed by Anônimo
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20:37:00
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Parabéns pela reportagem .....!!!!!
ResponderExcluirMuito bom a entrevista. WFabrício
ResponderExcluirEm nome do P8 agradeço aos comentário.e a cada dia traremos uma novidade.Obrigado a todos.
ResponderExcluirAgente que agradeçe por vcs efetivarem entrevistas com galãs da nossa terra. Amo o Marcelo pelo seu trabalho.e por ser uma pessoa simpatica.
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