'Fora do Ar' com Marcos Monturil: "Desculpa, mas o sensacionalismo é tudo menos frio"


O entrevistado dessa semana é o jornalista Marcos Monturil. Ele chegou a TV Meio Norte no ano de 2001, vindo da Rádio Pioneira ainda quando era estudante pela UFPI. Começou como estagiário na produção do MN Esporte, depois se desligou da emissora para retornar pouco depois em definitivo na produção do Programa Esporte em Ação. 

"A TV MN foi a única televisão em que trabalhei. Antes dela, tive passagens por alguns jornais impressos. Comecei no Diário do Povo, em 1999. Depois tive experiências nos já extintos jornais Na Hora e Correio do Piauí", conta a nossa equipe. 

Na emissora dos Guimarães, Marcos Monturil conta que já fez de tudo um pouco. Hoje é Coordenador de Conteúdo e de Jornalismo, além de apresentar programas e quadros esportivos da casa.

P8: Conte um pouco sobre sua jornada de trabalho e quais os cargos que você ocupa na emissora?  

R – O que mais me orgulho na minha história na TV MN é de já ter feito de tudo um pouco. Produzi dezenas de programas dos mais variados segmentos, fui repórter e também tive boas experiências apresentando programas, não só de esporte. No passado já exerci o cargo de Coordenador de Produção. Na atual gestão, primeiramente assumi a Coordenação de Esportes. Agora acumulo também a Coordenação de Conteúdo e Coordenação de Jornalismo. Todas essas demandas exigem uma grande dedicação. Passo o dia na TV e continuo trabalhando mesmo quando não estou lá. As redes sociais nos ajudam a continuar pensando e discutindo o jornalismo mesmo quando não estamos no trabalho. Só minha mulher que não gosta muito disso...rs.

P8: Na tua carreira de jornalista, o que mais te marcou positivamente e negativamente? Alguma curiosidade?

R – Tive experiências maravilhosas. Vou citar duas para não me alongar demais. Lá no início, fiz algo que foi um divisor de águas na minha carreira. Atualmente, quando o Brasil joga pela Copa do Mundo, que bairro é considerado o point para a turma festejar a vitória? O Saci né? Pois sem falsa modéstia, tenho orgulho de dizer que eu ajudei a criar isso. Em 2002, ainda estagiário, criei o Repórter de Pijama, um personagem que fazia uma cobertura irreverente nos jogos, que passavam de madrugada. Foi um sucesso! Um dia, no Saci, vi que a brincadeira ía render, pedi o trio elétrico que a TV tinha e resolvi subir nele chamando a galera para comemorar. Pegou, virou micareta e até hoje o local é ponto de concentração para os jogos do Brasil.
Outro grande momento na minha carreira foi a cobertura da Copa das Confederações. Acompanhamos a Seleção Brasileira por todo o Brasil, percorremos mais de 11 mil km de Van, passando por todo tipo de aventura. Além de ter a chance de fazer uma cobertura especial do evento esportivo, com links ao vivo em treinos e coletivas (teve ao vivo até de dentro do estádio, da arquibancada), também tive a honra de ser os olhos da TV MN em um dos momentos mais marcantes da história recente da democracia. As manifestações que começaram com protestos contra o aumento de passagens e que contagiaram o país. Vi de perto os primeiros conflitos, passamos por muitos momentos de tensão e medo. Vivi o jornalismo em sua essência.

P8: Você acompanhou todo o processo de regionalização da TV Meio Norte, desde a sua desfiliação da Band. Você acha que a MN está melhor que antes? Por que?  

R – A regionalização era uma tendência natural de uma TV que sempre teve identidade própria. Mas foi um ato de muita coragem do empresário Paulo Guimarães apostar nessa mudança. Não é fácil manter uma TV 24 horas no ar, com mais de 40 programas em sua grade. Em muitos momentos sofremos as consequências dessa ousadia, com dificuldades operacionais na adaptação. Mas hoje tenho a convicção que acertamos. A TV MN está melhor porque a identificação com o público só aumentou. Ter uma TV regional é um orgulho para o piauiense.

P8: Que tipo de público assiste hoje à TV Meio Norte e o que esse público procura?

R - Com dezenas de programas no ar, claro que buscamos oferecer um conteúdo diversificado, que atinja os mais diferentes públicos. Mas não dá pra negar que temos uma afinidade maior com as classes mais populares e nos orgulhamos disso. O povo liga a TV na MN para ver o que lhe interessa e também para se ver. É uma emissora em que o telespectador se reconhece. Essa popularidade foi se transformando em intimidade. Eu costumo dizer que as outras TVs entram na casa das pessoas. Já a TV MN entra na casa, abre a geladeira, põe o pé no sofá...

P8: Como você avalia o jornalismo da MN se comparado às das concorrentes?

R – Sinceramente, sem querer parecer arrogante, mas nossa intenção nunca foi nos comparar com as outras. Óbvio que isso é levado em conta na hora de disputar a audiência. Mas o grande barato da TV MN sempre foi buscar fazer diferente, errando ou acertando. Sempre seremos uma TV de vanguarda, porque não temos medo de arriscar. Lembro bem quando fizemos o primeiro link ao vivo via internet. Como a imagem e áudio eram ruins, não faltaram críticos. Até o dia que conseguimos um furo jornalístico graças a esse “patinho feio”. Hoje até a Globo usa esse tipo de recurso. Temos um jeito nosso de levar a informação ao telespectador. Não tenho a pretensão de querer dizer que somos um manual de como fazer jornalismo da maneira mais certa. Na verdade só o telespectador tem esse poder...

P8: Se você tivesse poder de mudar algo no jornalismo nacional o que mudaria?

R – As mudanças que eu sempre quis ver no jornalismo, já estão acontecendo nos últimos anos. Estamos quebrando o rigor, ficando menos engessados. Aquela concepção antiga de um âncora dando notícia sem mexer o rosto já era. As pessoas não querem mais só que você conte uma história, elas querem que você converse com elas. O bom jornalista não é aquele que fala bem, é o que é bem compreendido.

P8: Qual sua opinião sobre o jornalismo frio e sensacionalista?

R – Desculpa, mas o sensacionalismo é tudo menos frio...rs. Até porque ele trabalha as emoções que vão além da notícia. Discutir se isso é bom ou ruim é discutir o próprio conceito de jornalismo. Noticiar a tragédia, o drama pessoal, a barbárie, por si só já é explorar a dor humana. Mas não dá pra noticiar, sem expor. Cada um escolhe uma embalagem diferente para fazer isso, mas o produto é o mesmo. Não importa se o apresentador grita ou o âncora sussurra, o interesse de quem assiste será sempre o mesmo. E a nossa obrigação é levar a informação. Respeitando limites, mas preservando também as características de cada comunicador no modo de fazer isso. Pra quem não gosta, sempre existirá aquele aparelho maravilhoso chamado controle remoto...

P8: E o jornalismo no Piauí, como você considera? A ética ainda é uma marca forte para o bom exercício da profissão?

R – Olha, discutir ética no jornalismo é um terreno bem movediço. Lógico que existe uma ética geral, que rege nosso comportamento e trabalho. Mas existe também a ética de cada um. Cada profissional estabelece e impõe seus próprios limites. E colhe o bônus e o ônus disso. Porque no final das contas é o consumidor que vai dizer até onde permite que ele vá...

P8: O que seria do jornalismo piauiense sem sua parcela de contribuição? Você acha que trouxe algo de diferente para ele?

R – Acho que todos nós ajudamos a mudar a forma de fazer TV, mesmo quando nem percebemos. Quando eu resolvo dá uma notícia de uma forma inusitada, quando uso uma expressão pouco usual, quando aposto em um profissional com perfil diferente, isso tudo é minha tentativa de colaborar com mudanças que sejam significativas. Quando começamos a fazer o Olé, nos mostrando como jornalistas torcedores, tirando onda e sendo zoados, novamente, não faltaram críticas. E isso acabou virando o principal tempero e atrativo para o público. O que não tenho é medo de errar. Posso pecar por excesso, mas nunca por omissão...

P8: Sangue, dor e sofrimento é sinônimo de audiência?

R – Sempre será! É do ser humano. E não acho que somos bárbaros por causa disso, pelo contrário, isso nos faz humanos. Querer ver o drama do outro é até uma forma de aprender a viver e suportar nossas próprias angústias. A obrigação moral do jornalista é ir além da exibição do drama, é usar essa exposição para cobrar soluções. Ou pelo menos tentar...

P8: Até que ponto um jornalista pode expôr a dor ou a culpa de uma pessoa?

R – Primeiramente, existem limites legais. E o jornalista não está acima da lei. Quem se sentir ultrajado de alguma forma terá sempre o dispositivo legal a recorrer. Já os limites morais são subjetivos, é difícil ter uma regra geral, cada caso é um caso. Repito, cada profissional tem seus valores. E o julgador final é o telespectador.

P8: O que menos gosta na profissão de jornalista?

R – Quando um jornalista denuncia algo errado, ele quer uma boa notícia. Mas também quer que sua notícia ajude a solucionar o problema. Quando as coisas não melhoram e os erros se repetem, é bem frustrante.

P8: Hoje, como avalia o programa Olé?

R – Já participei de vários projetos e programas esportivos da TV MN. Me apego a todos, mas quem não muda, para no tempo. O Olé está testando novos formatos. Deixamos o conceito de programa factual diário, para apostar em um dominical mais completo e despojado. O Olé Domingo era um sonho antigo meu, um programão esportivo, para as pessoas assistirem do sofá de casa, do barzinho, no churrasco no quintal. É o que nós boleiros chamamos de uma boa resenha.

P8: O futebol é um ambiente milionário num país de muitas desigualdades. Qual sua opinião em relação aos salários pagos atualmente nos grandes clubes brasileiros?

R – Não vejo nenhum problema em um jogador receber um salário milionário. Associar isso a desigualdade social é bobagem. Os times são empresas privadas e suas receitas também. Um jogador com sua arte e seu talento ajuda a gerar vários empregos e a fazer a economia funcionar. E se ele faz muito, merece ser remunerado a altura. Imagina a quantidade de pessoas que lucram, o quanto movimenta em dinheiro a marca “Neymar”? E se ele é protagonista, claro que tem que faturar muito!

P8: Na sua opinião qual é o principal problema do futebol brasileiro?

R – É o mesmo problema do país como um todo. Falta de gestões sérias. Dinheiro não aceita desaforo. Qualquer negócio precisa ser pensado curto e longo prazo. E o erro nessa administração reflete em tudo, na formação de atletas, na manutenção de craques no país e, o pior, na falta de credibilidade no produto futebol, o que afugenta os torcedores.

P8: O que acha do futebol Nordestino?

R – Estamos aos poucos mudando de patamar. E a paixão do nordestino pelo futebol é o motor dessa evolução. A Copa do Nordeste é um exemplo disso, sucesso de público e audiência. Por isso me orgulho de estar em uma TV que exibe o futebol do Nordeste e investe nesse sentimento regionalista.

P8: Fora do Brasil, tem algum time que você gosta de parar para olhar e torcer?

R – Gosto de bom futebol, tipo o Barcelona que é sempre uma atração especial. Curto muito acompanhar os campeonatos europeus. Meu preferido é o inglês, que a há muito tempo perdeu a fama de “brucutu”.

P8: Na sua opinião o que é preciso para ser um bom jornalista esportivo?

R – Primeiro tem que gostar de esporte. Essa é uma editoria do jornalismo que tem que ter uma afinidade pessoal pra fazer bem feito. Segundo, tem que apostar no lúdico. A notícia esportiva sempre pede leveza e bom humor. Esporte é prazer. Isso vale também para quem o notícia.

P8: Onde se faz o melhor jornalismo esportivo do país?

R – Claro que a turma do Sudeste tem mais estrutura, isso é inegável. Mas para nossas proporções estamos mandando bem. Olha, sou um curioso que fica xeretando a TV produzida nos outros estados. E garanto que no Norte/Nordeste o Piauí é referência. Isso vale também no jornalismo esportivo.

P8: Para aqueles que sonham em ser jornalista esportivo, qual o recado que você deixa para eles?

R – Pensem fora da caixa, saiam do óbvio. Beba de todas as fontes, mas crie seu próprio estilo. E uma dica especial para as meninas: Está faltando mulher no jornalismo esportivo piauiense, temos boas, mas poucas opções. O mercado está pedindo essa mão de obra. Fica a dica...


JOGO RÁPIDO
Família? A família é meu aconchego. Minha calmaria nos momentos de pressão e estresse. E minha segurança nos momentos de dúvidas. 

TV Meio Norte? A TV MN é muito mais do que a empresa que eu trabalho. Costumo dizer que sou um produto da TV MN. Minha formação profissional, meus princípios, o meu jeito de fazer televisão, se mistura com a empresa. Aqui eu me fiz profissional. Sem falar que o sentido de família da TV também é apaixonante.

Jornalismo? O jornalismo é uma vocação, quase uma sina. Uma vez uma estudante me perguntou: "Como é ser jornalista?" E eu respondi: "Feche os olhos e se imagine fazendo qualquer outra coisa. Conseguiu imaginar? Então você não é jornalista..."

Política? Sou um animal político. Gosto de pesquisar, debater, falar minhas opiniões. Nem o momento triste da nossa política me desmotiva. Gosto de pensar que evoluimos e vamos evoluir mais.

Qual seu esporte preferido? Meu esporte preferido? Acho que nem preciso dizer né...rs. Mas além do futebol também curto muito assistir jogos de tênis e sou um admirador do MMA.

Redes Sociais? Sou viciado em redes sociais e tento explorar esse novo brinquedo como um todo. Tanto na diversão, como no trabalho e função social.

Família? Sem querer ser saudosista, mas sou do tempo em que filho pedia benção a pai e mão e o respeito era sentido só no olhar. Não é só na escola que se educa, os pais não podem se omitir e depois ficar lamentando perguntando "onde foi que eu errei?".

Crise? A crise é real. Mas pior do que a crise é o medo de inovar, de mudar. É no momento de adversidade que descobrimos quem somos e do que somos capazes. Na crise, se reinvente.

Quem é Marcos Monturil? Sou estressado e ao mesmo tempo sou bem humorado. Sou amável e ao mesmo tempo sou zangado. Sou focado, mas as vezes distraído. E gosto de ensinar e aprender com a mesma medida. Sou um curioso que gosta de inventar. Definitivamente, eu não suporto ser mais um na multidão...


Por Zeke Rodrigues
portalp8@gmail.com
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2 comentários:

  1. Eu gostaria de parabenizar o jornalista que fez essa entrevista, ficou excelente. O fora do ar voltou é isso??

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  2. Aplausos. Excelente entrevista, mas ainda continuo achando que a da Sávia foi melhor rsrs ah, porque o nome fora do ar mesmo?kkkk

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